quarta-feira, 28 de junho de 2006

NOTÍCIA NA MELHOR IDADE

Neste mesmo período do ano passado, entre muito forró, fogueira, fogos e tudo que uma festa junina proporciona num lugar como o Nordeste, eu, cabra da peste!, quebrava a cabeça com todas as preocupações que um trabalho de conclusão de curso ocasiona.

O resultado da mistura entre licor de passas e livros de páginas amareladas deu até uma coisa arretada de boa! Mas como não sou servidor público e minha satisfação não está no resultado final do mês, o processo de criação da monografia que teve de quebra um projeto (dois em um, como disse meu orientador), foi a melhor parte (nunca pensei que diria isso!).

Fazendo reviver aquele finalzinho de junho de 2005, trago para vocês a blognovela ‘Notícias na melhor idade’. Dividida em capítulos de vários textos antigos, a idéia é trazer para discussão obras velhas (não tão velhas), sejam elas inéditas ou não. Na estréia, um bate-papo com o compositor Gildeon Costa, o Deon, integrante do grupo Lacertae, do município de Lagarto, em Sergipe.

Esse texto foi publicado no caderno de cultura Documento, junto com uma crítica do jovem talento Rafael Duarte (deixo um link para o blog do cara e, conseqüentemente, para a crítica citada). Preservei toda a formatação da matéria, que nem perito em cena de crime.

Que venha 2005!

HISTÓRIA E PENSAMENTO NÃO LINEAR DO LACERTAE

Por Leandro Lopes / Caderno Documento – Música

Conversar com alguns músicos é buscar constantemente um sentido cronológico no papo. Quem já ouviu alguma entrevista sem edição de compositores como Renato Russo, Zeca Baleiro, para falar dos mais famosos, sabe bem o que é isto. Uma coordenação de idéias amplamente descoordenadas, sem linearidade. Como reflexo destes soltos pensamentos, nascem músicas ousadas, inovadoras, que a primeira vista são taxadas como loucas, mas que aos poucos consegue seus objetivos: envolver e fazer o público refletir.

Nas primeiras frases do compositor Gildeon Costa, o Deon, um dos integrantes do grupo sergipano Lacertae, da cidade de Lagarto, isto ficou claro. Aí viria uma entrevista emaranhada de frases soltas, mas ‘digestivamente’ saborosa em conhecimento. Com um chapéu de pano e sentado em cadeira plástica, Deon, concedeu o bate-papo ao Documento na entrada do seu estacionamento em frente a uma universidade particular de Aracaju. Um cara que cumprimentava todos que passavam no melhor estilo nordestino: “Colé seu peste, é você que está aí é?”.

MODO DE PREPARO

Em 1989, Deon Costa e Almir Tacer (que ganharia este nome a partir de então por causa de uma brincadeira de utilizar as letras do nome da banda ao inverso), formariam o grupo Lacertae (lincar para o site), com influências de tudo que era ‘positivo de música na época’, no povoado do Crioulo, no município de Lagarto, distante 75 quilômetros de Aracaju. Durante a trajetória da banda, várias formações surgiram, mas os primos sempre estiveram presentes nos palcos. “Tivemos algumas mudanças, mas na verdade foram mais participações do que mudanças exatamente. No início tocávamos com Paulo, depois o Anderson Christian e Augusto”, detalha Deon.

Desde o início os integrantes da banda faziam gravações em demos ainda na fita K7. Eles gravavam uma, duas ou três músicas. Em um determinado ano, que o Deon não sabe precisar direito, surgiu o convite para tocar no Abril Pró Rock, em Recife. Fazer contato com os participantes do movimento Mangue Beat (movimento musical surgido em Recife, no começo dos anos 90, para misturar a música pop internacional de ponta aos gêneros tradicionais da música de Pernambuco) foi o passo inicial para conhecer o Brasil.

(continuando)

“Fizemos um belo show, conhecemos o Chico Science e a galera de Recife. Nesta época, o Chico já estava engajado no Rio de Janeiro, aí ele abriu as portas para nós. Foi quando entramos no cenário nacional. Foi ele que deu o toque pro Dado (Vilas Lobos), mostrando o trabalho pro cara e o cara gostou e a gente participou com duas músicas: ‘100 quilômetros com um sapato’ e ‘o assassino’”, lembra.

Estas duas músicas entraram na coletânea Brasil Compacto, gravada nos estúdios do selo Veja. Muito bem recebida pela crítica, a banda Lacertae começou a ser conhecida no cenário nacional. “Depois disto às portas se abriram e várias e várias oportunidades e convites apareceram. Em 98 a gente caiu em Recife de novo para o nosso segundo Abril Pró Rock. O show com a nova formação (após a saída do Paulo) foi do caralho”, contou.

Depois veio as premiações no ‘Balaio Brasil’, ‘Rumos Itaú Cultural’ e ‘Mercado Cultural’. Só não pergunte ao Deon quando estes prêmios aconteceram. “Pintava convites para tocar em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Pó, bacana, a gente foi levando e aparecendo em todas as principais cidades do Brasil”, disse com tons de nostalgia.

O RESULTADO

O primeiro trabalho ‘Birimbau de Cipó de Mé’, foi gravado em duas edições, a primeira completamente independente, sendo produzido algo em torno de 1500 cópias. “Foi quando fizemos a segunda edição com umas 3500 cópias com direito a lançar em São Paulo e tudo. Foi massa, muito bom”, lembrou. Neste embalo, de acordo com Deon, foi feito o segundo disco ‘A volta que o mundo deu’, que teve lançamento oficial no Crioulo e várias capitais do Brasil. “Infelizmente não conseguimos lançar em Aracaju ainda. Isto depois de quase um ano”. Os problemas de incentivo da cultura local são outras histórias.