quinta-feira, 28 de setembro de 2000

A Seleção de Música

A seleção foi um exercício de contato com a diversidade cultural nordestina, encontrando um vasto conjunto de expressões que representa a região atualmente, sendo a música um dos maiores expoentes.

No transcurso de oito meses foram realizadas pesquisas, consultas, entrevistas e viagens, fazendo quase um mapeamento da produção musical na região. Em muitos casos, esse esforço era direcionado apenas para confirmar alguns nomes já conhecidos, em outros, para conhecer de perto o que se produz atualmente na região. Percorridos os nove Estados nordestinos, respectivamente, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, foi configurado um universo bem mais amplo do que aquele que tínhamos contato através da mass media.

A música produzida nesse amplo universo, reflete um conjunto de aspectos que traduz em seu contexto a influência exercida por fatores geográficos, políticos e econômicos, bem como, pelas referências construídas através do convívio permanente com a fartura e a escassez, o nacional e o estrangeiro, o universal e o local, o rural e o urbano, o tradicional e o moderno, o profissional e o experimental.

Música clássica, de estética contemporânea, instrumental, popular, mangue. Movimentos culturais novos e antigos, músicos profissionais e amadores. Ritmos, sotaques, baques, levadas, batidas, bits. "Muito suada", música, som, confirmando a afirmação feita por alguns jornalistas em reportagens da imprensa nacional, ao se referirem à produção musical do Nordeste, música eclética de alta qualidade. Música criada com referências de uma cultura jovem, surgida a partir de elementos das culturas oriental e ocidental.

Dessas referências, percebemos o esboço da transformação da região em centro de produção artística, com destaque para a música e alto índice de criatividade, onde cada Estado contribui com suas referências. Percebemos, também, o caminho que ainda falta trilhar para desenvolver objetivamente o campo da produção cultural, para que haja real oportunidade para a consolidação da produção regional.

Diante do universo musical, optamos pela seleção da produção que, em conjunto, conduzisse o público às especificidades dessa produção, com destaque para a música pop, principal referência da música brasileira da década de 90, responsável pela ampliação das fronteiras do Nordeste com outras regiões do país e com o exterior, a partir de uma nova perspectiva . No grande conjunto, foram identificados uma média de cinqüenta grupos e artistas dos quais vinte foram selecionados: Nação Zumbi, Clêudo e os Bambelôcos, Songo, Dj Dolores, Paulinho Ditarso e o Jaguaribe Carne, Álvaro e Danilo, Virgínia Rodrigues, Rebeca Matta, Seik Tosado, Crac, Mundo Livre S.A., Lacertae, Mestre Ambrósio, Cidadão Instigado, Antúlio Madureira, Dr. Charada, Rita Ribeiro, Célia Sampaio, Otto e Carcará de Gueto.

Damiana Crivellare e Sérgio Gusmão
Damiana Crivellare é produtora cultural e Coordenadora de Intercâmbio do Instituto de Cultura/Fundação Joaquim Nabuco.
Sérgio Gusmão é produtor, animador cultural, ator e Assistente do Instituto de Cultura/Fundação Joaquim Nabuco, ambos responsáveis pela curadoria de música do projeto.


LISTA DOS MÚSICOS/GRUPOS PARTICIPANTES:

Dr. Charada (AL)
Crac (BA)
Rebeca Matta (BA)
Virginia Rodrigues (BA)
Cidadão Instigado (CE)
Célia Sampaio (MA)
Rita Ribeiro (MA)
Paulinho Ditarso e Jaguaribe Carne com participação especial de Chico César (PB)
Antúlio Madureira (PE)
Mundo Livre S.A. (PE)
Nação Zumbi (PE)
Songo (PE)
Sheik Tosado (PE)
DJ Dolores (PE)
Carcará de Gueto (PE)
Otto (PE)
Mestre Ambrósio (PE)
Cleudo e os Bambelocos (RN)
Álvaro e Danilo (RN)
Lacertae (SE)




DR. CHARADA (AL)

Surgida em 1996 sob direta influência do Movimento Mangue, a Banda Dr. Charada, acabou se transformando na primeira banda mangue de Alagoas. Composta por Otávio TJ no vocal e tambor; Abel Cajuína no tambor e vocal; Cacá Caçula na percussão e efeitos; Téo Net na bateria e efeitos, Cacau Caçula no tambor; Eduardo Osucco no baixo e Fernando Bastos na guitarra.

A banda desenvolve o projeto para a gravação do seu primeiro CD com repertório próprio, com sons que vão desde o coco até às misturas tecno.

Home-page: www.drcharada.com.br




CRAC (BA)

Criada no início dos anos 90, a Banda Crac emplacou o seu primeiro Cd vencendo o prêmio Copene de Cultura e Arte, um dos mais importantes da Bahia. Formada por Nancy V. na voz; Andrezinho B. no sax, flautas, microtons e vocais; Júlio M. nas guitarras e loops; Nego T. no baixo e microtons e Duda na bateria, a Crac é considerada uma das melhores bandas do rock baiano, com destaque para a ousadia que permeia o trabalho, desde a sonoridade até uma série de outros elementos. O resultado dessa mistura é a cuidadosa distribuição dos timbres e microtons e uma arrojada relação das vozes e instrumentos.

Home-page: www.bahianet.com.br/crac

Endereço eletrônico: juliamoreno@bahianet.com.br ou nancyviegas@hotmail.com





REBECA MATTA (BA)

Com o seu CD Tantas Coisas, Rebeca Matta, uma das melhores revelações da música pop feita na Bahia, chama a atenção pelas características inovadoras com que vem fazendo a releitura de clássicos da MPB, como também a maneira criativa com que trabalha a música eletrônica, base sobre a qual ela costura as diversas influências da sua música.

Acompanhando Rebeca Matta estão os músicos Keko Villarroel no baixo; Guimo Migoya na bateria; Peu Souza na guitarra; Alexandre Fuentealba na guitarra e André T na guitarra, teclados e direção musical. A cenografia e videoinstalação ficam por conta de Marcondes Dourado.

Home-page: www.pragatecno.al.org.br/rebeca.htm





VIRGÍNIA RODRIGUES (BA)

Revelação da música baiana no final dos anos 90, Virgínia Rodrigues firma-se como uma das melhores cantoras brasileras da atualidade. De voz potente e performance de impacto cênico, tem deixados perplexos todos os que têm oportunidade de assistir à seus shows. O seu primeiro CD, Sol Negro, já esgotado, é procurado como jóia preciosa pelo público.






CIDADÃO INSTIGADO (CE)














CÉLIA SAMPAIO (MA)













RITA RIBEIRO (MA)

Depois de uma experiência no grupo folclórico Boi Barrica, do Maranhão, resolveu mudar-se para São Paulo onde decidiu investir na carreira de cantora. Era o que faltava para que Rita Ribeiro decolasse como uma das boas novidades da nova música nordestina. Representante legítima da safra de artistas que cultivam a mistura do regional com o pop, Rita Ribeiro já gravou dois CDs, todos com ótima repercussão de público e crítica. Ao seu lado estão os músicos Pedro Mangabeira e Marcelo Mangabeira, Lelena Anhaia, Tuco Marcondes, Edu Nader e Gil Barreto.




PAULINHO DITARSO E JAGUARIBE CARNE (PB)

O grupo: Criado na metade da década de 70 o Grupo Jaguaribe Carne de Estudos sempre desenvolveu o seu trabalho voltado para a fusão de linguagens ( artes visuais, teatro, poesia, artes gráficas, jornalismo) e com a pesquisa e laboratório de sons da chamada "World Music", misturando tudo com a vasta expressão e riqueza do folclore nordestino.

Seus criadores, Pedro Osmar e Paulo Ró, desde então vêm atuando com a participação de vários artistas paraibanos como Elba Ramalho, Xangai, Cátia de França, Amelinha e mais recentemente Chico César.

O Jaguaribe Carne, agora com a participação de uma das revelações da música paraibana, Paulinho Ditarso, cantor e compositor e instrumentista, apresenta um trabalho que tem como base instrumental a percussão pesada do nordeste brasileiro, incluindo ritmos de maracatu, ciranda, caboclinhos, bumba-meu-boi, baião e forró.

Pedro Osmar já gravou vários CDs e Paulinho Ditarso acaba de lançar um trabalho solo, mas neste show, que foi apresentado na programação off do último Festival de Montreux, eles apresentam a seguinte formação: Paulinho Ditarso no pandeiro, percussão, violão e voz; Pedro Osmar na viola, percussão e voz; Paulo Ró no violão, percussão e voz; Carlinhos Abdias no acordeon, teclado, baixo e percussão; Chiquinho Mino na percussão e vocal e Clauco Andrezza na percussão e vocal, além da participação especialíssima de uma das maiores revelações da Música Popular Brasileira, Chico César, que dispensa apresentações.




ANTÚLIO MADUREIRA (PE)



















MUNDO LIVRE S.A. (PE)

Outro ícone do Movimento Mangue, Fred 04 e Mundo Livre S.A. continuam impressionando a todos com a sua música recheada de acordes de instrumentos como o cavaquinho, a guitarra baiana, agogô e tamborim, tudo isso sob a influência do punk, do rock e do funk, além do próprio samba.
Com três CDs gravados, Fred 04 e Mundo Livre S.A. é composto por Fred 04 na voz, cavaquinho, guitarra, violão, banjo e surdo; Tony na bateria, caixas, pratos e backing vocal; Fábio no baixo; Bezerra Jr. nos teclados, guitarra e backing vocal e Marcelo Pianinho na percussão.




NAÇÃO ZUMBI (PE)

Verdadeiro ícone do Movimento Mangue, a Banda Nação Zumbi, vem demonstrando, após a trágica e inesperada morte de Chico Science, grande maturidade e capacidade de se manter em atividade. Assim continuaremos ouvindo o som do Nação Zumbi com suas batidas que nos levam ao coco, hip hop, maracatu, ciranda, soul, calypso, funk e samba.

Com o lançamento do seu terceiro trabalho, a NZ provou a todos os seus milhares de fãs que a banda terá vida longa. Nação Zumbi é composto por Jorge Dü Peixe na voz e tambor; Lúcio Maia nas guitarras; Dengue no baixo; Gilmar Bola 8 na voz e tambor; Pupilo na bateria e caixa; Toca Ogam na percussão e voz e Gira no tambor.




SONGO (PE)

Nos anos 70 uma nova versão da salsa foi criada por músicos caribenhos que pretendiam dar uma batida diferente àquele ritmo, tornando-o ainda mais "caliente". Assim nasceu o "Songo", palavra cubana de origem africana.

Pois bem, há dois anos, essa palavra desembarcou no Recife, servindo de identidade para uma novo grupo musical da cidade. Nasceu assim a Banda Songo que privilegia a parte instrumental para fazer um som cheio de toques afro e jazzísticos, com batidas de samba e carimbó.

Formado por Tiago Andrade na viola de arco e bandolim; Hugo Gila no baixo; Rafael Beltrão na bateria; Mavi Pugliese no sax e Márcio Monjolo na percussão, o Songo, na sua curta existência, já participou dos maiores festivais de Pernambuco como o Abril pro Rock, Rec-Beat e Festival de Inverno de Garanhuns.




SHEIK TOSADO (PE)

Banda revelação do Abril pro Rock 98, e do Porão do Rock 99, de Brasília, o Sheik Tosado acaba de lançar o seu primeiro CD, Dança de Caráter Urbano e de Salão, onde apresenta um som pesado e muito sonoro, misturando forró-coco-hardcore. A essa mistura soma-se a distorção de guitarras, como também a abrangência do punk rock, com levadas de funk e metal, até elementos do soul e da black music.

O Sheik Tosado é China no vocal; Bruno Ximarú na guitarra; Risaldo no baixo; Oroska na percussão; Gustavo da Lua na percussão e Hugo Carranca na bateria.

Endereço eletrônico: rafael@domain.com.br ou rafaelb@domain.com.br




DJ DOLORES (PE)

A música eletrônica ganha cada vez mais espaço na cena pernambucana e com ela os DJs transformam-se em verdadeiros astros. É o caso do sampler man sergipano radicado no Recife Helder Aragão.

Tirando dos seus equipamentos ruídos, sons cotidianos de Pernambuco, mixagens de vários ritmos e até gravação da voz do poeta pernambucano Ascenso Ferreira, Helder Aragão botou todo mundo pra dançar na última edição do Abril pro Rock. Além disso, conta com a importante participação de grande nomes da música, especialmente convidados para dar uma canjinha no show, o que faz da sua apresentação uma verdadeira festa.




CARCARÁ DE GUETO (PE)




OTTO (PE)




MESTRE AMBRÓSIO (PE)




CLEUDO E OS BAMBELÔCOS (RN)

O grupo: Ativo participante da cena musical de Natal, Cleudo Freire, depois de muita pesquisa em torno da música de raiz da sua região, juntou-se ao grupo Os Bambelôcos e o resultado disso foi a produção do primeiro CD, Zambê Crossover, onde apresentam uma fusão dos ritmos negros ainda encontrados no Rio Grande do Norte como o zambê, coco de roda e coco de embolada, somados aos funk, rock, reggae e música romântica.

Sua experiência musical inclui uma temporada em São Paulo, onde estudou guitarra, harmonia e história da música no Conservatório Chopin, ao mesmo tempo em que tocava em bares e abria shows no Projeto Pinxinguinha, como o de Cida Moreira e Wagner Tiso.

Neste show além de Cleudo Freire na guitarra e na voz, temos a participação de Jucelino Brito, na bateria, percussão, vocal e performance, Marcos Franca nos teclados, vocal e performance, Paulo Milton no baixo e vocal e Edmar Rocha na percussão e performance.




ÁLVARO E DANILO (RN)




LACERTAE (SE)


Com um único CD gravado, a Banda Lacertae conta apenas com a participação de dois músicos, os primos Deon no vocal e guitarra e Tacer na bateria e no berimbau. Com essa formação o grupo já se apresentou em vários festivais como o Abril pro Rock, o Garage Rock Festival e o Boombahia. O som da Lacertae passeia por varias vertentes, indo do rock tradicional ao jazz.