terça-feira, 17 de julho de 2007

Rustic Rural












Resistir toda as dificuldades...

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

O poder de um povo que tem sede de
apresentar toda a diversidade das artes de onde vivem...

sábado, 28 de abril de 2007

Boom de Bandas Experimentais



Boom de Bandas Experimentais
Data: Sábado, 28 de Abril de 2007 (22:30:33)
Tópico: Rock Press




Agora que tudo conspira a favor dos independentes, cenas dentro dos subterrâneos explodem a cada segundo. Uma delas, não tão nova, junta uma turma que não veste a camisa do pós-rock mas desconstrói gêneros do pop ao experimentar elementos e formatos incomuns ao ouvido ‘indie’ padrão. Por Filipe Albuquerque








Boom de BANDAS EXPERIMENTAIS

Pós-tudo


Filipe Albuquerque



Bandas nacionais encontram na experimentação a alternativa ao alternativo e dispensam o carimbo pós-rock. O vácuo criado pela derrocada eminente do formato consagrado pelas gigantes da indústria musical abriu um oceano de possibilidades para experimentalismos, tanto na utilização de novos modelos e plataformas de distribuição quanto na criação de sons distantes dos segmentos estanques da música pop do final do século 20.


A tecnologia acessível a boa parte da população mundial colocou ouvintes de todo o mundo em contato com canções, até então escondidas em discos empoeirados em acervos de colecionadores, que não apenas questionavam formatos pré-estabelecidos mas apresentavam outras vias para a música universal.


Hoje, nada mais comum do que dar de cara, em algum site aleatório na internet, ou em casas noturnas e festivais, com bandas que utilizam o que há de mais contemporâneo e também rudimentar para desconstruir o rock, o pop, o jazz e qualquer outro gênero artístico musical.


Essa turma tem feito bastante ruído no segmento independente brasileiro. Se os anos 90 assistiram a um crescente número de grupos musicais locais devotos do noise, grunge e britpop impressos em capas de fanzines e escalados para festas, palcos de bares e eventos, os primeiros anos do século 21 já se mostram diferentes ao relevar, nos recantos mais obscuros da cena independente, bandas que somam referências destes gêneros a outros até então esquecidos ou relegados a antigas coleções de LP e aficionados. Como resultado, a palavra experimental passou a ser utilizada quase para definir um outro momento musical aqui e no mundo.



O que a imprensa estrangeira – rapidamente seguida pela brasileira – resolveu chamar de pós-rock, os atores deste novo segmento preferem chamar apenas música. “Eu não acho pós-rock. Mas esse é um rótulo que acabam dando pra qualquer banda que tenha relação com a cena rock paulista/brasileira e faça um som um pouco mais diferente, principalmente se for instrumental”, avisa Paulo Soares, baterista da dupla Baobá Stereo Club.


A banda formada das cinzas de outros grupos do cenário independente paulista pode ser definida, nas palavras do músico, como “fruto do interesse em música argentina e cubana”. A referência roqueira, ainda segundo ele, é o que dá ao som da banda certo aspecto pop (ou não pop) universal. “Como eu e o Henrique (Diaz, guitarra) sempre tocamos rock – apesar de o Henrique ser formado em violão clássico e ter estudado piano – isso acabou passando por um filtro”, analisa.



Guilherme Granado, do cultuado sexteto Hurtmold, também não é adepto da utilização do selo ‘pós-rock’ como forma de classificar a sua e outras bandas que, gradualmente, iniciam um segmento interessante e criativo do subterrâneo nacional. Responsável pelo vibrafone e teclados do grupo paulista, hoje nome significativo do independente nacional, ele entende que o título é tão somente “coisa de imprensa”.


“Ele não faz sentido nenhum se você analisar as bandas que são colocadas dentro desse estilo. São coisas de estéticas completamente diferentes (umas das outras), até completamente opostas às vezes. Acho que experimentações no rock já existem há muito tempo. Sempre existirão bandas inclassificáveis, e isso é ótimo”, argumenta.


Parceiro de Maurício Takara, baterista da banda e que já tocou com gente como Otto, Nação Zumbi, Naná Vasconcelos, Damo Suzuki, e que acaba de lançar Conta, pela Desmonta Discos, Granado demonstra não se preocupar com possíveis classificações vindas por parte de público e imprensa. “Não podemos controlar o que as pessoas acham da música que a gente faz”, reflete.


Sem medo de parecer pretensioso, o grupo compõe, segundo Granado, de maneira livre, muito próximo do formato tentativa e erro, até encontrar um resultado que, de acordo com músico, “nos desafie de alguma maneira e agrade a todos os seis da banda”. Para ele, ser chamado de ‘cabeça’ é algo que, quando acontece, parte de gente que está acostumada a formatos pré-moldados de bandas e canções. “Isso não os incomoda”.



Alguns nomes fundamentais da cena pós-rock universal são referências para o sexteto Labirinto, de São Paulo. É Erick Cruxen (guitarra, baixo) quem destaca algumas das bandas que fazem a cabeça dos integrantes do grupo, entre elas Explosions in the Sky, Godspeed You Black Emperor, Mogwai.


Mas ele faz questão de deixar claro que o grupo não se acomoda sob a sobra do rótulo. “Essas são algumas referências entre tantas outras, já que o Labirinto é formado por seis pessoas, com formações e experiências musicais e pessoas distintas”, filosofa.


“Sempre procuramos essa variedade de conhecimentos, seja na música clássica, eletrônica, jazz, metal. Na verdade, tem gente dentro do Labirinto que nem imagina o que seja pós-rock”. Ainda que o músico apresente sua versão para o som da banda, a biografia resumida da banda em inglês no myspace começa com “Post rock brazilian sextet”.


Nenhum problema. A experimentação como denominador comum entre as três bandas imprime nelas marcas indeléveis do pós-rock. Muito por vir a reboque de uma bagagem roqueira, nitidamente adquirida nos anos 90 quando guitarras saturadas e tosqueira lo-fi já faziam zumbir ouvidos em porões obscuros em São Paulo, Rio e demais capitais do país, ou em registros caseiros em fitas cassete lançadas por selos independentes que aprenderam na marra a distribuir fitas-demo, em tempos em que zines de papel ainda eram os melhores veículos para divulgação.



Hoje, com a rede à disposição e o mundo na ponta do mouse, selos e festivais aparecem às pencas, motivando a criação de circuitos independentes pelo país e abrindo espaço para novos nomes. Mas a turma dos sons experimentais vê a atual situação com outros olhos. Nem tudo é tão sensacional como a por vezes exacerbada boa vontade de parte da imprensa registra. Paulo Soares acredita que, para donos de bares e agitadores da noite independente, “a preferência ainda é pelo rock e pelo eletrônico em suas formas mais conhecidas e convencionais”.


Granado lembra que o Hurtmold passou por alguns festivais nos últimos anos, “uns maiores, outros menores”, registra. Entre eles, cita o Goiânia Noise e as edições nacional e catalã do Sonar. Ainda assim, ele sente certa reserva por parte do público subterrâneo com relação ao som da banda.


“Eu não sei se esse desejo por inovação é tao forte assim no público e até na crítica. O que realmente faz sucesso, até em meios mais ‘underground’, por falta de uma palavra melhor, ao meu ver são revivals de coisa antiga”, desbafa Granado. “Muita coisa sem nenhuma graça, na minha opinião. Pra que eu vou ouvir uma banda que se parece com o Gang of Four, só que ruim? E é isso por exemplo que se aclama, por público e crítica”.

Erick é partidário da visão realista de Granado e Soares. Ainda que haja certa euforia relacionada ao independente, em uma tentativa lascada de hypar o segmento, ele aponta as ressalvas que sente por parte do público com relação a timbres e peças que fujam do habitual. “(os festivais) em sua maioria são eventos ligados exclusivamente a bandas de rock ‘convencionais’ ou ao hardcore. São raros os eventos que abrem espaço para bandas experimentais ou instrumentais como o Labirinto”. Ele observa uma boa melhora de receptividade ao grupo, contabilizada a partir de 2003, época que, segundo ele, muita gente questionou a ausência de vocais no som da banda.


O músico se lembra, porém, de um certo barulho ao redor das bandas instrumentais naquele tempo, muito pelo pós-rock americano e inglês que tomava ares de cult entre o público independente. “Algumas casas de shows e festivais passaram a se interessar por bandas experimentais, devido, principalmente, ao ‘hype’ das bandas de ‘pós rock’ gringas”.


A configuração física da banda, composta por muitos músicos e instrumentos diversos, também é um problema na hora de agendar shows, segund Erick. “A estrutura de várias casas alternativas não suporta. Mas temos conseguido marcar bem mais shows do que no passado, com outras bandas experimentais inclusive; e temos boas expectativas para 2007”.


Baobá Stereo Club: www.myspace.com/baobastereoclub

Hurtmold: www.myspace.com/hurtmold

Labirinto: www.myspace.com/labirinto



Abaixo, uma relação de bons exemplos de uma nova safra de nomes do experimental brasileiro


PARKPLATZ: trio instrumental de Porto Alegre. Fernanda Ferraz e Mateus Weachter se revezam no baixo e guitarra, enquanto Sandro Ribeiro cuida exclusivamente da bateria. Crescendos, guitarras saturadas e viradas surpreendentes de bateria com toques de Sonic Youth, Yo la Tengo e Mogwai - http://www.myspace.com/bandaparkplatz


RIVOTRIL: algum gaiato poderia chamar de ‘pós-mpb’, ou ‘pós-rock rural’. Referências a Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti e Trio Virgulino de conceito progressivo. Junior Crato (flauta, sax e teclado), Rafael Duarte (baixo) e Lucas dos Prazeres (percussão) gostam de longas peças de sons regionais, cheias de inputs e outputs e distantes das guitarras e etereozices do pós-rock universal. http://www.myspace.com/bandarivotrill


UNI CAMPESTRE: eles se classificam como Regional Jazz Rock. Para divulgar a cultura do povoado de Crioulo Lagarto, Sergipe, selecionaram jovens músicos locais para criar o conceito da banda. Verídica ou não, a história sustenta o objetivo por trás dos elementos regionais colados de forma anárquica a ruídos guitarreiros, vocais disconexos e progressões cheias de estilo. http://www.myspace.com/uni_campestre


DEBATE: atualmente em excursão por cidades do Estados Unidos e Canadá, o trio – Sérgio Ugeda (guitarra e voz), Marcelo Madaji (baixo) e Richard Ribeiro (bateria) – urra letras incompreensíveis a partir de oscilações inconstantes de noise/calmaria de fazer corar Kim Gordon e seus capangas. Nuances ditadas por linhas de baixo apuradas e escalas atonais de guitarra explodem em ondas absurdas de barulho. Ou um trator atirado do alto do Terraço Itália em uma quarta-feira de cinzas. Tire suas conclusões com ‘Raiz Quadrada’ em http://www.myspace.com/debaterock



Confira também:


Maqno
http://www.myspace.com/maqno


mini cassete recorder
http://www.myspace.com/minicasseterecorder


Cappuccino Derby
http://www.myspace.com/cappuccinoderby


Constantina
http://www.myspace.com/bandaconstantina


Observatório Auditivo
http://www.myspace.com/observatorioauditivo


Valentin 79
http://www.myspace.com/projetovalentin79








sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Experimentação no agreste

Experimentação no agreste

Escrito por Canoinhas.net

Qui, 04 de agosto 2006

A primeira vez que ouvi a banda sergipana Lacertae foi na coletânea Brasil Compacto, editado pelo selo de dado Villa-Lobos. O Rock It! No Começo dos anos 90. Produzidos por Sergio Espírito Santos, vocalista de um desses pequenos milagres do underground brasileiro. O hardcore Tubarões Voadores, de Itaboraí, O Cd reunia 12 grupos cariocas, paulistas, gaúchos, Maceió e o Lacertae, de Lagarto-SE

Deste. Ficou-me, dede aquele, a sensação de um grupo inquieto, surpreendente, dir-seia vanguardista. O então trio – Paulo Henrique(voz, percução e pifano), Deon Costa(guitarra) e Aldemir


Tacer (bateria) – se destacava no álbum com as faixas 100 km com um sapato e O Assassino. Tabém fazian parte do Cd a banda
Eddie, de Olinda, a Maria bacana de Salvador, e a memorável Paulo Francis Vai Pro céu, de Recife. Ainda assim, e apesar dos anos, o nome e o som Lacertae nunca saíram da cabeça, não foi, portanto sem emoção que trombei numa loja esperta com A Volta Que o Mundo Deu, novíssimo Cd da banda hoje reduzida – apenas numericamente, não em sonoridades ou horizontes – aos primos Tacer e Costa responsável pelo vocal álbum saiu pelo selo Aplimtude, num primei8ro lote pra lá de ousado que inclui experimentações de PexbaA, Sol e Satanique samba Trio, de quebra o selo paulista distribui o primeiro Cd do Lacertae, Berimbau Cipó Imbé.

Fonte: MN

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Lacertae, na Fun House

21.07.06

fonte: Blog do estadão

http://blog.estadao.com.br/blog/werneck/?title=lacertae_na_fun_house&more=1&c=1&tb=1&pb=1

Lacertae, na Fun House

por
Guilherme Werneck
, Seção: Balada 11:10:04

O duo de Sergipe Lacertae, formado pelos primos Deon (guitarra e voz) e Tacer (bateria, berimbau e efeitos), leva seu rock peculiaríssimo, com boa dose de experimentações, à Fun House hoje à noite.

Anota aí: A partir das 23h, o show rola por volta da 1h, na Funhouse (rua Bela Cintra, 576, tel. 011 3259-3793. Ingresso: R$ 7 (mulher) e R$ 10 (homem)

quarta-feira, 28 de junho de 2006

NOTÍCIA NA MELHOR IDADE

Neste mesmo período do ano passado, entre muito forró, fogueira, fogos e tudo que uma festa junina proporciona num lugar como o Nordeste, eu, cabra da peste!, quebrava a cabeça com todas as preocupações que um trabalho de conclusão de curso ocasiona.

O resultado da mistura entre licor de passas e livros de páginas amareladas deu até uma coisa arretada de boa! Mas como não sou servidor público e minha satisfação não está no resultado final do mês, o processo de criação da monografia que teve de quebra um projeto (dois em um, como disse meu orientador), foi a melhor parte (nunca pensei que diria isso!).

Fazendo reviver aquele finalzinho de junho de 2005, trago para vocês a blognovela ‘Notícias na melhor idade’. Dividida em capítulos de vários textos antigos, a idéia é trazer para discussão obras velhas (não tão velhas), sejam elas inéditas ou não. Na estréia, um bate-papo com o compositor Gildeon Costa, o Deon, integrante do grupo Lacertae, do município de Lagarto, em Sergipe.

Esse texto foi publicado no caderno de cultura Documento, junto com uma crítica do jovem talento Rafael Duarte (deixo um link para o blog do cara e, conseqüentemente, para a crítica citada). Preservei toda a formatação da matéria, que nem perito em cena de crime.

Que venha 2005!

HISTÓRIA E PENSAMENTO NÃO LINEAR DO LACERTAE

Por Leandro Lopes / Caderno Documento – Música

Conversar com alguns músicos é buscar constantemente um sentido cronológico no papo. Quem já ouviu alguma entrevista sem edição de compositores como Renato Russo, Zeca Baleiro, para falar dos mais famosos, sabe bem o que é isto. Uma coordenação de idéias amplamente descoordenadas, sem linearidade. Como reflexo destes soltos pensamentos, nascem músicas ousadas, inovadoras, que a primeira vista são taxadas como loucas, mas que aos poucos consegue seus objetivos: envolver e fazer o público refletir.

Nas primeiras frases do compositor Gildeon Costa, o Deon, um dos integrantes do grupo sergipano Lacertae, da cidade de Lagarto, isto ficou claro. Aí viria uma entrevista emaranhada de frases soltas, mas ‘digestivamente’ saborosa em conhecimento. Com um chapéu de pano e sentado em cadeira plástica, Deon, concedeu o bate-papo ao Documento na entrada do seu estacionamento em frente a uma universidade particular de Aracaju. Um cara que cumprimentava todos que passavam no melhor estilo nordestino: “Colé seu peste, é você que está aí é?”.

MODO DE PREPARO

Em 1989, Deon Costa e Almir Tacer (que ganharia este nome a partir de então por causa de uma brincadeira de utilizar as letras do nome da banda ao inverso), formariam o grupo Lacertae (lincar para o site), com influências de tudo que era ‘positivo de música na época’, no povoado do Crioulo, no município de Lagarto, distante 75 quilômetros de Aracaju. Durante a trajetória da banda, várias formações surgiram, mas os primos sempre estiveram presentes nos palcos. “Tivemos algumas mudanças, mas na verdade foram mais participações do que mudanças exatamente. No início tocávamos com Paulo, depois o Anderson Christian e Augusto”, detalha Deon.

Desde o início os integrantes da banda faziam gravações em demos ainda na fita K7. Eles gravavam uma, duas ou três músicas. Em um determinado ano, que o Deon não sabe precisar direito, surgiu o convite para tocar no Abril Pró Rock, em Recife. Fazer contato com os participantes do movimento Mangue Beat (movimento musical surgido em Recife, no começo dos anos 90, para misturar a música pop internacional de ponta aos gêneros tradicionais da música de Pernambuco) foi o passo inicial para conhecer o Brasil.

(continuando)

“Fizemos um belo show, conhecemos o Chico Science e a galera de Recife. Nesta época, o Chico já estava engajado no Rio de Janeiro, aí ele abriu as portas para nós. Foi quando entramos no cenário nacional. Foi ele que deu o toque pro Dado (Vilas Lobos), mostrando o trabalho pro cara e o cara gostou e a gente participou com duas músicas: ‘100 quilômetros com um sapato’ e ‘o assassino’”, lembra.

Estas duas músicas entraram na coletânea Brasil Compacto, gravada nos estúdios do selo Veja. Muito bem recebida pela crítica, a banda Lacertae começou a ser conhecida no cenário nacional. “Depois disto às portas se abriram e várias e várias oportunidades e convites apareceram. Em 98 a gente caiu em Recife de novo para o nosso segundo Abril Pró Rock. O show com a nova formação (após a saída do Paulo) foi do caralho”, contou.

Depois veio as premiações no ‘Balaio Brasil’, ‘Rumos Itaú Cultural’ e ‘Mercado Cultural’. Só não pergunte ao Deon quando estes prêmios aconteceram. “Pintava convites para tocar em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Pó, bacana, a gente foi levando e aparecendo em todas as principais cidades do Brasil”, disse com tons de nostalgia.

O RESULTADO

O primeiro trabalho ‘Birimbau de Cipó de Mé’, foi gravado em duas edições, a primeira completamente independente, sendo produzido algo em torno de 1500 cópias. “Foi quando fizemos a segunda edição com umas 3500 cópias com direito a lançar em São Paulo e tudo. Foi massa, muito bom”, lembrou. Neste embalo, de acordo com Deon, foi feito o segundo disco ‘A volta que o mundo deu’, que teve lançamento oficial no Crioulo e várias capitais do Brasil. “Infelizmente não conseguimos lançar em Aracaju ainda. Isto depois de quase um ano”. Os problemas de incentivo da cultura local são outras histórias.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Indie 25 Lista complicada, o critério definido para determinar o que é ou o que não é rock independente


OesquemaQuinta-feira, 23 de março, 2006

Indie 25

Lista complicada, o critério definido para determinar o que é ou o que não é rock independente é curto e grosso: se tem dinheiro de empresa grande, não é indie. Assim, os altos e baixos do rock nacional no mercado de discos dão a tônica da produção independente nos últimos vinte anos. Até o começo dos anos 80, ser independente era uma atitude, um manifesto - como foram os discos da fase Racional de Tim Maia e a idéia original do selo de Luís Carlos Calanca, a Baratos Afins. Mas a explosão do rock na década de 80 praticamente extinguiu a produção indie, tamanha era a demanda das grandes gravadoras - e grupos independentes por definição musical tiveram seus discos lançados por majors. A estréia de Lobão, Cena de Cinema, de 1982, por exemplo é uma demo gravada em vinil. Nos anos 90, a chegada da MTV e o sucesso do Sepultura no exterior impulsionam o faça-você-mesmo e o rock independente vive o nascimento de um mercado que começaria a se organizar nos anos seguintes. O sucesso do plano Real, em 94, determina o futuro deste mercado: se por um lado abre a possibilidade de se adquirir tecnologia graças à paridade com o dólar, por outro exclui o elitismo musical do mercado de discos, voltado apenas para classes populares. Isto aumenta a produção caseira e equipa uma primeira geração de computadores que, graças à internet, passa a se comunicar com mais agilidade e para um público específico. Chegamos ao século 21 com uma produção madura e plural, disposta a conquistar o Brasil e o planeta.

Os 25 discos abaixo são as pedras fundamentais na formação de um mercado independente, tanto do ponto de vista comercial como artístico. Cada um deles marca uma etapa concluída, um novo patamar e uma novidade no complexo jogo do rock brasileiro indie, cada vez menos abaixo e mais ao lado do pop endossado por patrões abonados, mesmo aqueles lançados sob uma chancela “indie” (como o selo Plug da BMG, o Banguela da Warner, a Tinitus que era distribuída pela PolyGram ou o Chaos da Sony). Para facilitar a compreensão e não confundir a história, o foco fica apenas no formato rock, excluindo outros agentes cruciais para a formação do mercado independente (como hip hop, heavy metal, eletrônico e hardcore). Se não, era assunto para páginas e mais páginas…


1) Singin’ Alone - Arnaldo Baptista (1982)
Marco zero da produção independente como nós conhecemos, é o primeiro lançamento da Baratos Afins e o alerta “o sonho acabou” para a geração que cresceu à sombra dos Mutantes. Um novo rock estava começando a tomar conta do Brasil (à base do chopp e batata frita) e Arnaldo Baptista chorava as próprias mágoas ao piano, atormentado emocionalmente, com baladas cruas e muito rock’n'roll. Bem distante do sol carioca que começava a bronzear o rádio.


2) 3 Lugares Diferentes - Fellini (1987)
MPB maldita, cool wave, pós-punk, bossa nova, África, cult band, art rock… Conceitos que fervilhavam no underground oitentista se encontraram numa mesma banda. Formada pelos jornalistas Cadão Volpato e Thomas Pappon, o Fellini contava com a participação de Ricardo Salvagni para gravar seu álbum menos enigmático e mais, er, pop. Entre o rock europeu e a melancolia brasileira, eles sintetizavam sentimentos que anos depois seriam traduzidos em um único adjetivo: indie.


3) O Ápice - Vzyadoq Moe (1988)
Na Sorocaba pré-Wry, o clima europeu era mais alemão do que inglês. Culpa do noise dada do Vzyadoq Moe, performáticos orgânicos que partiam pra cima do público. Menores de idade e fartos de punk rock, abraçavam o drone, o cabecismo, o ritmo kraut e o industrial desplugado, especialmente na percussão ferro-velho. O Ápice vale seu título por optar pela independência, enquanto irmãos de sonoridade do grupo (o mineiro Sexo Explícito, os cariocas Black Future e Picassos Falsos) fecharam com a certeza do contrato com grandes patrões.


4) Cascavelettes (1988)
Antes de serem banalizados por um hit na novela Top Model, pelos mimos do superstarismo e muito antes do forróck boca-suja dos Raimundos, os Cascavelettes inauguraram a fase moderna do pop gaúcho, separando os contemporâneos do Liverpool e a geração Rock Grande do Sul como farinha do mesmo saco. Usando o palavrão com motivos rock’n'roll (o rock brasileiro só os usava com motivos punk, ressaca da Censura), o grupo era um misto de Ramones pornográficos com New York Dolls machistas e seu primeiro disco (lançado um ano antes do sucesso de “Nega Bom-Bom”) mostra a disposição para injetar algo mais do que energia no indie nacional. As demos da época, todas batizadas com o nome da banda, mantém o “nível”.


5) You - Second Come (1991)
Este é o único disco do selo Rockit!, do guitarrista da Legião Dado Villa-Lobos, que pode ser considerado independente - já que o sucesso underground que fez esgotar a tiragem inicial de 3 mil discos fez crescer o olho da inglesa EMI-Odeon, que abduziu a marca. A estréia do Second Come, influenciada diretamente pelo sussurrado rock inglês pós-Madchester e pelas convulsões noise pré-grunge do underground americano, abre a segunda fase do indie brasileiro que, devido à onipresença do instrumento, começa a ser definido, anglofonamente, de “guitar” (as duas pronúncias são permitidas).


6) Little Quail and the Mad Birds (1992)
Depois de tentar seguir os passos da geração Legião-Plebe-Capital (em vão, culminando na geração do seminal Rock na Rampa, em 1987), o rock de Brasília volta-se para dentro e a capital do Brasil começa a ebulir culturalmente. Disputando cabeça-a-cabeça o título de melhor banda com o Low Dream e o de melhor demo com o Oz (a excelente Trés Bien Mon Ami), o Little Quail ganha por não soar derivativo de ninguém (nem de My Bloody Valentine, nem de Pixies). A fita é uma ótima desculpa para caçar os registros sonoros do rock candango do começo da década, que vão da fase rock do Pravda aos primórdios dos Raimundos, passando pelas excelentes, e esquecidas, Succulent Fly e Sunburst.


7) Killing Chainsaw (1992)
São os piracicabanos do KC que colocam o rock do interior de São Paulo no mapa da década de 90. O LP homônimo, lançado pela loja de discos Zoyd e sampleando o anime Akira na capa, é o ponto inicial de uma geração que deu ao Brasil instituições célebres do underground, como a casa noturna Hitchcock (em Santa Bárbara d’Oeste), o zine Broken Strings, o festival Juntatribo, a rádio Muda e o estúdio Arenna (todos estes em Campinas), além de bandas que iam do punk pop do No Class ao samba-noise do Linguachula e o industrial nerd dos Concreteness. Além de iniciar a fase caipira do indie nacional, o Killing ainda se orgulhava de seu inglês brasileiro, com sotaque “tchu” em vez de “to” e sem brit-frescuras. O rock aqui é ligado na tomada e na distorção, de pai Sonic Youth e mãe J&MC.


8) Rotomusic de Liquidificapum - Pato Fu (1993)
O disco mais esquisito da gravadora mineira Cogumelo (que já contava com esquisitices como o disco sub-Red Hot do DeFalla ou o caos sônico do Holocausto) também é o disco de estréia do Kid Abelha dos anos 90. Estranho, não? Que nada. Estranho é ouvir a versão speed para “Sítio do Picapau Amarelo” ou um hino mosh baptchura cuja citação da Unimed levou o grupo a tocar no comercial do plano de saúde. E que tal o medley esquizofônico que batiza o disco, que cita, sem pudor, os Flintstones, Kiss, baião, funk metal e beats eletrônicos? Muito mais John do que Fernanda Takai, é o disco do trio mineiro que os fãs de Mike Patton mais gostam. Com razão.


9) Scrabby? - Pin Ups (1993)
Lançado pela Devil e produzido por João Gordo, o terceiro (ou segundo, se não contarmos o LP do projeto Gash) disco dos pais do indie 90 é também seu disco mais sombrio e pesado. Fora as referências inglesas, entra o lado mais caótico e, hm, “visceral” da banda. Gravado com sua formação clássica, é uma mistura de Funhouse (dos Stooges) com Berlin (do Bowie). É o ápice das guitarras de Zé Antônio. “Acho que esse foi o disco que mais teve briga no estúdio”, lembraria o vocalista Luís Gustavo anos depois”, eu nunca vi tanta gente chorando, berrando, a Alê chorando num canto, o Marquinhos no outro”.


10) Mod - Relespública (1993)
Curitiba tem a péssima reputação de não produzir registros sonoros à altura das apresentações ao vivo de suas bandas. Discos e fitas funcionam mais como “guias” sobre o que esperar de determinado grupo do que reproduções in vitro de suas performances instantâneas. Da mesma forma, a cidade não possui rock de laboratório, aquele feito para viver em estúdio. Talvez isto explique o paradoxo fundamental da capital do Paraná: quanto mais bandas a cidade produz, menos elas se destacam em nível nacional. O primeiro compacto da Relespública (ainda com o enfant terrible Daniel Fagundes, vocalista, morto aos 16 anos) pertence à primeira safra do indie rock da cidade, custeado pela gravadora Bloody que pertencia ao mesmo JR que é dono do lendário club 92 Degrees. Com três faixas (”Capaz de Tudo”, “Preciso Pensar” e “Quem é Que Entende o Mundo?”), o vinil fala mais do rock de Curitiba do que todas compilações lançadas em seu nome.


11) Nunca Mais Vai Passar o Que Eu Quero Ver - Doiseu Mimdoisema (1994)
A influência que a Graforréia Xilarmônica, uma das dissidências dos Cascavelettes, teve sobre o rock gaúcho é muito maior que o séquito de fãs que o grupo preserva até hoje. Graças ao improvável gosto musical de seus líderes, Frank Jorge e Marcelo Birck, despertou-se no pop riograndense o prazer em redescobrir a Jovem Guarda, encravada na memória genética do estado. Esta redescoberta trombou irresistivelmente com os prazeres de uma recém-descoberta paixão gaúcha, o experimentalismo no estúdio em tempos de gravação caseira. Diego Medina fez a fita para um amigo de farra, mas a contagiante “Epilético” pulou do som da sala de estar para as ondas do rádio e virou hit local instantâneo. Medina continuaria suas experiências pop no futuro (Grupo Musical Jerusalém, Video Hits, Senador Medinha), mas sem conseguir reencontrar a ingenuidade da primeira fita, que está para o rock gaúcho atual como Angel Dust, do Faith No More, está para o novo metal.


12) Uh-La-La - Dash (1995)
Antes de provocar suspiros com seu baixo Danelectro a bordo dos Autoramas (e ao lado do ex-Little Quail Gabriel Thomaz), Simone do Vale era a líder de um supergrupo indie carioca. Gritalhona e com jeito de moleque, ela era uma das guitarrista do grupo, ao lado de Diba Valadão (na outra guitarra), Formigão (que depois entrou para o Planet Hemp, no baixo) e Kadu (ex-Second Come, na bateria). O hit “Sexy Lenore” transformou a demo Sex and the College Girl num hit do underground do Rio e fez com que o grupo fosse sondado pela misteriosa gravadora Polvo, que lançou o único CD da banda, pra ninguém. Com a capa desenhada por David Mazzuchelli, o disco passou por uma série de empecilhos que o tornaram item de colecionador. O ano era 1995, as grandes gravadoras tinham dado as costas para o rock, as pequenas perdiam ilusões de vendagens altas e vários picaretas apareceram no meio da história. O disco do Dash é apenas um dos muitos exemplos de uma geração pega com as calças na mão.


13) 100 Km c/ 1 Sapato - Lacertae (1995)
Ao mesmo tempo, o Lacertae, no Sergipe, abria uma em muitas possibilidades. Depois da seca de 1995, o mercado independente passou por uma brusca horizontalização, e sua pluralidade tornava-se sua principal qualidade. Assim, bandas de lugares sem tradição passavam a ganhar espaço no cenário, quebrando o eixo Rio-SP-BH-Brasília-PoA-Recife que já havia quebrado o RJ-SP original no começo da década. A cena começa a fragmentar-se não apenas em lugares diferentes (cidades como Goiânia, Londrina, Salvador, Fortaleza, Florianópolis, Vitória e Maceió reivindicam na marra seu próprio espaço, nos anos seguintes) mas em gêneros improváveis. Se a MTV e o Sepultura criaram um hiato noise/guitar/heavy com bandas cantando em inglês e tentando, sem sorte, o mercado exterior, a fita de estréia do Lacertae é o elo perdido entre o pop dos anos 90 e o experimentalismo dos dias do Vzyadoq Moe. Hendrix, discursos concretos e uma bateria com berimbau também mostravam que o Nordeste estava em plena ebulição artística depois do mangue beat.


14) Carbônicos - The Charts (1996)
Com a fragmentação da cena independente, São Paulo entrou numa onda retrô semelhante à gaúcha, disposta a resgatar valores sessentistas a um pop perdido entre a rádio e o anonimato. Antecipando a onda kitsch que veio com Austin Powers e o box-set do disco Nuggets, a cena paulistana passou por uma estilização visual e sonora que mais tarde seria referida, de forma irônica, como a cena “churly”. Os responsáveis pela popularização desta nova fase seria o grupo comandado por Sandro Garcia, que teve seu único disco lançado pela loja Suck My Discs dos jornalistas/músicos Alex Antunes e Celso Pucci (outra ponte dos anos 90 com o cult rock dos 80). Garcia, dono do famoso estúdio Quadrophenia, mais tarde fundaria o Momento 68 com o vocalista da banda gaúcha Lovecraft, Plato Divorack, selando assim a paixão de São Paulo e Porto Alegre pelos anos 60. (Plato aliás é a grande ausência desta lista, talvez por nenhum disco sintetizar toda a complexidade do artista).


15) Learn Alone Or Read The User’s Manual - Sleepwalkers (1996)
Aqui vamos ter motivos de sobra para reclamações. Afinal, muitos vão falar dos tempos do baterista Farmácia ou da clássica Sick Brain in Sue’s Coffee, gravada um ano antes, quando muitos sequer reconhecerão a presença da banda. O fato é que os Sleepwalkers foram a melhor banda de indie rock, em todos os sentidos, que o Brasil já teve, deixando para trás concorrentes de peso como os goianos Grape Storms, a carioca PELVs e o Grenade de Londrina. A sonoridade lo-fi, o tratamento de guitarras, o senso melódico, os refrões, o apelo pop - as qualidades do grupo catarinense podem encher parágrafos e mais parágrafos. Mas além de sua qualidade, sua importância se dá por tirar o pop catarina da vibração riponga de bandas como Phunky Buddha e Dazaranhas. Depois deles, vieram o Feedback Club (da ex-sleepwalker Sabrina), o Superbug, os Pistoleiros, o Pipodélica e as gravadoras Low Tech e Migué Records, dando força à cena ilhéu de Floripa.


16) Baladas Sangrentas - Wander Wildner (1997)
Luminar do punk brasileiro para as massas dos anos 80, o ex-vocalista dos Replicantes seguiu os passos da primeira safra dos anos 90 (comprada pelas majors) e o moldou para o underground. Como os Raimundos tinham o forró, o Planet Hemp tinha a maconha e o mangue beat, os caranguejos; Wander inventou uma máscara para facilitar sua absorção pelo mercado - e com o rótulo “punk-brega” vendeu-se para uma nova geração ao mesmo tempo em que amadurecia sua personalidade pública. Mas, mais importante, a carreira solo do velho WW era uma prova cabal que o rock independente pouco tem a ver com juventude ou faixa etária.


17) Menorme - Zumbi do Mato (1997)
O Zumbi do Mato é o som que Fausto Fawcett e Arrigo (ou Paulo) Barnabé fariam juntos se tivessem alguma afinidade. Mas, mais do que isso, é o ponto de convergência de diversos aspectos do pop carioca, representados por diversas instituições. Há o humor doentio do Gangrena Gasosa, a explosão cênica de Piu-Piu & Sua Banda, a podreira das primeiras fitas do Pólux, as gravadoras Tamborete (do jason Leonardo Panço) e Qualé Maluco (dos planet hemp B-Negão e Formigão), a repetição do Stellar, o choque de Rogério Skylab e o som metal da segunda vinda do Second Come. Além disso, o grupo continua o legado experimental retomado pelo Lacertae que resultou na safra de vanguarda da virada do século, com nomes como Objeto Amarelo, os Jersssons (São Paulo), Os Legais (SC) e Vermes do Limbo (Londrina).


18) A Sétima Efervescência - Júpiter Maçã (1998)
O disco de estréia do ex-cascavelette Flávio Basso é um passo adiante nos conceitos vendidos pelos Charts e por Wander Wildner. Rock adulto, retrô e psicodélico, A Sétima Efervescência sagrava a maturidade da mesma geração que havia tomado a porta-na-cara das gravadoras depois da efervescência do biênio 93/94 e a independência do formato perseguido pelas gravadoras, sem deixar de soar pop, brasileiro e cantando em português e inglês. É o primeiro blip no radar de um mercado que viria, em menos de um ano, a galinha de ouros do trio sertanejo-axé-pagode começar a dar com os burros n’água.


19) Chora - Los Hermanos (1999)
A segunda fita do quinteto Los Hermanos escancarava um pop estritamente radiofônico que foi forjado longe do universo do mercado fonográfico. O grupo liderado por Marcelo Camelo era a continuação do trabalho de uma geração de bandas cariocas que misturavam ska, funk, reggae e samba (nomes como Los Djangos, Acabou La Tequila e, mais tarde, Pedro Luís & A Parede). Mas o grupo ia além e se alinhava ao ecletismo chique de bandas de sua geração, como 4-Track Valsa, Vibrossensores, Vulgue Tostoi, entre outros. Fora os maneirismos apaixonados (que levaram a banda receber rótulos como romanticore e pop brega), a fita mostrava que as possibilidades cogitadas por Júpiter Maçã poderiam ser exploradas a fundo, tanto artística quanto comercialmente. Mas o mercado, acostumado com seu próprio toque de Midas, comprou a banda e forçou “Anna Júlia” a fazer sucesso, overdosando o público do que poderia se tornar os Paralamas do século 21 (e ainda pode, apesar de tudo).


20) Astromato (1999)
Continuação dos experimentos noise e industrial da época do Waterball (92-95), o Astromato era filho direto do Weed, banda de pop guitarreiro britânico que, brincando com as palavras, passou a compor em português e se deu bem. Sua primeira fita era mais um degrau na escalada que o indie brasileiro dava rumo à sua auto-suficiência artística. Se gaúchos e cariocas ajudavam o rock a perder o jeito de moleque, os campineiros explicavam que algumas qualidades (como sensibilidade e timidez) não pertenciam à adolescência. Além disso, a dupla de guitarras Armando e Pedro tramavam texturas sônicas à moda das bandas inglesas que tanto influenciaram o indie no começo dos anos 90 (e que ainda repercutiam, graças a bandas como os mineiros Vellocet, o carioca Cigarettes e os catarinenses Madeixas). Aos poucos, o ciclo vai se fechando.


21) De Luxe 2000 - Thee Butchers’ Orchestra (1999)
Cru e direto, o TBO é a melhor banda de rock’n'roll brasileira na ativa e sua existência se deve à dissidência garageira que rompeu com o indie no meio dos anos 90. Seu núcleo central era o trio da gravadora Ordinary (a produtora Deborah Cassano, seu marido Marco Butcher, ex-Pin Ups, e o guitarrista e produtor Adriano Cintra), que, além dos Butchers’ foi responsável pelo lançamento de bandas como Ultrasom (de Adriano), Red Meat, Spots, Grenade, entre outras. Mais do que agitar o underground com duas guitarras e uma bateria, o Butchers’ está ligado à fase de ouro do indie anos 90, quando o rock brasileiro começou a conversar com os gringos, sem passar pelos veículos oficiais.


22) It’s An Out of Body Experience - Grenade (1999)
O Grenade era o próximo patamar. Fruto dos experimentos lo-fi do ex-Killing Chainsaw Rodrigo Guedes, o grupo nascia em Londrina e logo se tornava um dos maiores nomes do indie nacional. A repercussão se dava graças à sensibilidade de Rodrigo, pai de riffs memoráveis, melodias pop ao extremo e pirações em estúdio. O som ia do rock clássico ao hardcore, passando por folk e indie rock. Lançado no exterior, Out of Body Experience poderia é a conclusão lógica do longo passeio que o rock independente fez durante a década de 90.


23) Brincando de Deus (2000)
O terceiro disco destes baianos deveria ter o título que Experience, do Grenade, levou. Afinal, seria lançado um ano antes e produzido por Dave Friedmann (Flaming Lips, Mercury Rev, Mogwai) caso todo seu equipamento e pré-produções não fossem perdidos num incêndio. O grupo se refez e, ao lado do talentoso produtor e tecladista André T. (responsável pela sonoridade de novos baianos como Rebeca Matta e a banda Crac!), gravou seu álbum definitivo, imbatível. Um disco que poderia ser lançado no mercado exterior sem dificuldades e que, apesar da anglofilia, é essencialmente brasileiro.


24) Peninsula - PELVs (2000)
Completando dez anos de banda e dez anos do selo carioca Midsummer Madness, a PELVs faz um disco igualmente robusto como o do Brincando de Deus, mas cheio de ganchos pop e melódicos. Uma obra-prima do indie nacional, Peninsula soa como todos os independentes querem soar: profissa, autêntico, despreocupado e livre, como se o mercado de discos brasileiro permitisse isto. Se ele não permite, a deixa fica para o indie.


25) O Manifesto da Arte Periférica - Wado (2001)
Além de coroar a recente produção de Maceió (a saber, Varnan, Mopho e Sonic Junior), o disco de estréia do ex-Ball Oswaldo Schlickmann é o auge da produção independente brasileira dos últimos 20 anos. Tem todas as qualidades dos discos citados nesta lista, além de falar em português, compor letras certeiras e experimentar à vontade no estúdio. Se chegamos até aqui com este nível, daqui pra frente é só crescer.

Não lembro pra quem eu escrevi esse texto… Acho que foi pra Zero.

Postado por Alexandre Matias às 16:52 | 11 Comentários | Permalink

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

C D R E C O M E N D A D O - RUBENS LISBOA é compositor e cantor


C D     R E C O M E N D A D O

Agora empresariados pela Marginal Produções, produtora capitaneada pelo conterrâneo Bruno Montalvão, a banda sergipana Lacertae é formada por apenas dois componentes, mas consegue fazer surgir uma massa sonora ao mesmo tempo instigante e surpreendente.

Naturais do Município de Lagarto, Deon Costa e Aldemir Tacer já ganharam o Brasil em apresentações que empolgam o público presente. É impossível ficar alheio ao som da Lacertae pois, logo aos primeiros acordes, a alma do ouvinte é tomada de assalto com os acordes psicodélicos dos rapazes e começa a viajar por caminhos inimagináveis. O som da banda passeia por diversas vertentes, indo do rock tradicional ao mais puro jazz. Há ecos da guitarra de Jimi Hendrix, mas a influência jazzística de John Coltrane também se faz presente. Por outro lado, há espaço para ressaltar a música da terra, do chão, com cheiro de chuva, pureza e simplicidade.

No recém-lançado segundo trabalho, o CD intitulado “A Volta que o Mundo Deu”, os artistas aprimoram a sua característica mistura de rock experimental com MPB e folclore da música nordestina. Entre as 10 faixas, os destaques ficam por conta de “O Danado”, “Pra Que Pressa” e “Entrada e Saída”. Como brinde, há ainda a participação de Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado, declamando os versos de "Amiga Folhagem" de autoria do renomado e também sergipano Sílvio Romero. Vale a pena!


RUBENS LISBOA é compositor e cantor

quarta-feira, 1 de junho de 2005

De maneira geral, o termo “experimental“ se aplica
a obras que buscam alargar fronteiras e definições de
gênero. No caso da música, é aquela livre e inovadora,
sem regras, improvisada, com estrutura e ritmos estra-
nhos. Tradicionalmente associado ao erudito, indo das
composições de Arnold Schoenberg a Philip Glass, por
exemplo, o experimentalismo encontrou espaço em
outros gêneros, como o jazz e a música eletrônica. Com
o rock não é diferente. E nem é preciso ir a Londres ou
Nova York para ver o que há de novo: algumas das ex-
periências mais originais no Brasil estão sendo feitas,
inclusive, fora do eixo Rio-São Paulo. É o caso do duo
Lacertae, surgido no distante Campo do Crioulo, peque-
no povoado de Lagarto, interior de Sergipe; o SOL, de
Porto Alegre; o PexbaA, de Belo Horizonte; e o Satani-
que Samba Trio, de Brasília.
(Texto e alternativas adaptados de Bravo, julho/2005, p.65

sexta-feira, 6 de maio de 2005

 


Jazz & blues nas Ostras

 

Fora da ordem

Um ''experimento jazz-dada-onívoro'' ou ''uma (des)combinação atonal de ex-significados''. Duas (in)definições que poderiam situar a música do grupo mineiro pexbaA, criado em 1998, fruto de projetos anteriores (Escola Mineira de Disfunção, Holocausto) do cenário musical de Belô nos 80. Formado por Rossano Polla (trompete e voz), Rodrigo Magalhães (bateria), João Marcelo (baixo) e Rodrigo Otávio (guitarra), o grupo trabalha com a transfiguração dos gêneros e idiomas musicais (Birlium, barlium,bleum, Yaba, Violinha do Pai Tomás) numa troca vertiginosa de locações e estilos que sofre influências da obra fragmentária de Tom Zé, dos microtons de Walter Smetak e também do pós-punk cavernoso de Nick Cave e do free jazz de Ornete Coleman. O pexbaA, que participou de projetos como Rock Contemporâneo do Sesc Ipiranga e Rumos Itaú Cultural Música, além do Festival South by Southwest, em Austin, Texas, em 2002, é um dos integrantes do selo Amplitude (www.amplitude.art.br). Há ainda outros grupos, como o gaúcho SOL (Screams of Life), que, em seu disco No descompasso do transe - retalhos do meu silêncio, mescla ruídos, passagens jazzísticas, melodias caóticas e trechos eruditos. E o Satanique Samba Trio (Misantropicália), de Brasília, que arrola os eruditos Anton Webern e Gustav Mahler entre os inspiradores. E mais o duo Lacertae (A volta que o mundo deu), surgido há 15 anos, no pequeno povoado de Campo do Crioulo, de 500 habitantes, na cidade de Lagarto, interior de Sergipe. Os primos Deon Costa (guitarra) e Aldemir Tacer (berimbau e bateria) conduzem sua música por caminhos inauditos.